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Ana Júlia

B.girl Ana

Me chamo Ana Júlia Vicari, tenho 22 anos, moro em Porto Alegre.

Nasci em Bento Gonçalves, mas vim pra “cidade grande” pra estudar, então não moro com minha família que são minha mãe, meu pai, e duas irmãs, mas mantenho contato direto com eles seja via eletrônica ou passando umas horinhas no ônibus uma ou duas vezes por mês pra poder vê-los ao vivo.

 

Divido apartamento com outras gurias, que pela correria do dia-a-dia fica difícil manter uma convivência. Minhas companhias e detentoras da minha atenção aqui são minhas amigas plantas, elas deixam meu quarto e meu coração mais verde e mais alegre.

 

Eu estudo biologia, faço licenciatura porque quero dar aula, mas a área da botânica me atrai muito também. Faz uns anos que estou nessa já, entre paradas pra dar um tempo e pegar poucas matérias pra aproveitar o universo de coisas que a universidade proporciona e que não estão dentro de uma sala de aula.

Acho importante o estudo e que se tenha uma educação básica de qualidade, e isso não pelo viés econômico que sempre se atribui a tudo, mas pelo viés vida. E não acho necessário que se tenha um diploma se assim se quiser, pode se ter algo que se goste e nos aprofundamos e vamos desenvolvendo de forma autodidata, e é isso aí!

 

Junto ao Grupo Viveiros Comunitários é que realizo meu trabalho, mantemos um viveiro como na universidade com mudas nativas, com as quais fazemos ocupações verdes em aldeias, quilombos, escolas, participamos de feiras, realizamos chimarrões consciência, divulgamos a importância da conservação e da valorização da flora nativa, das pancs, das plantas medicinais, e como isso é importante para a nossa soberania e por vezes independência, pelo menos em parte, desse sistema no qual estamos inseridos.

 

Trabalhar com o que se gosta é muito gratificante, e um privilégio em meio a esse mundo onde, muitas vezes, se precisa trabalhar com algo que não nos satisfaz tanto, para se manter em pé.

 

Meus treinos atualmente têm sido bem escassos, em geral, uma vez por semana que consigo parar e focar, sem ficar pensando em provas, prazos. Tenho treinado sozinha, erguendo a cama e fazendo um espaço no quarto, ou na área externa se o dia estiver bom. Andei olhando umas praças por aqui, mas perto de casa não tem nenhuma e não sei como me sentiria sozinha, talvez até encontrasse alguém que achasse legal e chegaria junto, é algo a se experimentar.

 

Sei que tem uns grupos que treinam por aqui, mas com um pensamento bem distinto do meu e acredito que a ideologia para se treinar junto tem que ser parecida ou, que uma não anule a outra, pra que todos os envolvidos cresçam na dança e consequentemente em suas formas de ser.

 

Comecei a dançar porque um amigo me levou até o estúdio onde ele estava fazendo aulas, fui e gostei muito, fazia aulas das diversas danças urbanas, mas me mantive firme no breaking.

 

Acho que de início porque queria continuar dançando e essa aula foi a única que se manteve, mas depois fui vendo que teve um porquê de só ela se manter e eu continuar me dedicando a isso, e fui tentando estar por dentro dos movimentos que aconteciam paralelamente e que ultrapassavam apenas a dança, e vendo em um contexto toda a cultura hip hop, me sentindo parte de algo.

 

Estive um tempo afastada da dança e dos treinos, mas de certa forma acompanhando, estando em contato com os elementos, e acho que esse foi um ponto importante pra que eu voltasse, quando se dança, não é apenas a dança que está em cada um, é um todo, é o entender porque se está fazendo aquilo e da forma que é.

 

Nunca fui de uma crew, então não sei bem qual é o sentimento de pertencer a uma. Minha experiência é de vivenciar com crews, penso que pra ser parte de uma, tem que compartilhar objetivos e a forma de chegar a esses objetivos, e pra isso, é necessário uma intimidade, companheirismo, fortalecimento, responsabilidade entre os seus.

 

Sem ser de uma crew, e entre crews, acredito que também possa se ter esse tipo de troca e identificação entre quem treina junto, mas sem os comprometimentos de levar um nome, e esse tipo de relação só vem a somar com a cena da cultura.

 

Como disse, nunca fui de uma crew, mas numa boa parte do tempo em que passei a me ver como b.girl, pude compartir com pessoas que me ajudaram a crescer e a ter mais confiança na minha totalidade de ser.

 

Durante esse processo fui percebendo o quanto era por amor aquilo que faziam por mim, e o quanto ficávamos felizes uns pelos outros, se inspirando e se reconhecendo de diferentes formas uns nos outros.

 

Não que essa conexão vá acontecer o tempo todo, e com todos que passam por nós, mas com quem sentirmos isso, que algo que foi dito, ou uma forma de agir, fez um sentido diferente pra nós, que nos sintamos a vontade pra chegar e compartir isso com essa pessoa, as vezes isso muda a percepção dela sobre si mesma.

 

Talvez ela nem imagine o quão valioso é o que ela faz, nem se dê conta do grande pedaço que é do processo de tantas outras pessoas e isso é uma forma de nos mantermos unidos, e seguir fazendo o que amamos.

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